Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Não subestimem as mães. Essas pessoas que saem do trabalho às 16h depois de uma jornada intensiva para deixar feito o mesmo que outros Fazem no dobro do tempo. As mães não fazem pausas demoradas para almoço nem se perdem em conversa, cigarros ou café porque têm que sair à hora. E mesmo assim enfrentam olhares de reprovação por saírem às 16h, por muito que a lei diga que existe uma licença para amamentação. Por muito que tenham trabalhado tanto ou mais que os outros. As mães saem às 16h e se correrem bem apanham o metro das 16:15, se estiverem de saltos altos não chegam a tempo por mais que corram. Por isso as mães também arrumam tantas vezes os saltos embora não prescindam de uma base para disfarçar as olheiras de acordar às 6 e meia da manhã com dois olhitos atentos e dois bracitos esticados a pedir colo. Dois olhitos e dois bracitos que só adormeceram uma hora depois, precisamente à hora a que tinham que acordar. As mães apanham o metro mas antes molham-se com a chuva e conseguem em dois minutos e meio ir a casa, beber um iogurte e tomar um duche quente para não ficarem doentes porque as mães não podem ficar doentes. E depois do iogurte e do duche correm para a escola da cria 17 minutos antes da hora marcada mas ainda assim com sentimentos de culpa de não terem conseguido chegar antes. As mães querem tanto chegar a casa para brincar com o bebé que na pressa se esquecem de tirar os pezinhos de plástico verdes com que se tem que andar na sala da creche e chegam a casa nessa linda figura depois de se terem cruzado com mil outras mães que também elas apressadas ou com sentimentos de culpa das horas não viram nem repararam por isso não avisaram. As mães também adormecem com uma mão e escrevem este texto com a outra porque às vezes, não sempre, têm necessidade de contar ao mundo que não deve subestimar as mães. Essas pessoas que se esforçam todos os dias por serem melhores e que podem estar tão cansadas que adormeçam em cima do jantar mas não tão cansadas que não esbocem um sorriso às seis e meia da manhã quando dois olhitos atentos e dois bracitos esticados pedem colo.
Hoje dobraste o riso pela primeira vez. Já tinhas dado gargalhadas, mas hoje foi diferente. Estávamos no corredor de um supermercado à espera do papá que tinha ido buscar um cesto e comecei a brincar contigo. A empurrar o teu carrinho enquanto agitava os braços. Primeiro sorriste, abriste a boca como costumas fazer. Depois, e que maravilha, uma sucessão de gargalhadas, um som tão feliz que me emocionou. Voltaste a fazê-lo em casa, numa brincadeira antes do banho. Cresces tanto todos os dias. E eu cresço contigo, encantada com o tanto que me dás todos os dias, meu filho.
Tens cada vez mais força. Esticas-te todo no meu colo quando estamos sentados, como um atleta a cumprir tempos. Viras e voltas a virar, arqueias as costas, fazes trinta por uma linha e eu a ver-te, rendida à tua energia e genica. Nunca alinhei em estereótipos (e não tos quero passar porque são tão redutores na maioria das vezes) mas és mesmo rapazinho. E, orgulhoso, sorris um sorriso maroto que me derrete e delicia. Adoras beijos na barriga, mimos nos pés e muita conversa. Gostas de observar as outras pessoas. Resistes ao sono durante o dia mas lá cedes ao cansaço. Nunca dormes mais de 30 minutos na maioria das tardes. Ouvimos muita música e dançamos. Também Cantamos as doidas doidas e o sapo jururu, uma casa muito engraçada e o pintinho piu. E somos felizes mesmo quando as noites são agitadas ou mamas pior. Os meus dias são muito mais felizes desde que estás aqui :) incomparavelmente mais felizes, mais cheios de baba e beijos rechonchudos.
Ontem pela primeira vez esticaste os braços na minha direção a pedir colo. O meu colo. Estavas no colo da Dona T., a receber mimos da vizinhança quando não deixaste margem para dúvidas: quero ir à minha mamã :) e a mamã pegou em ti. Pegará sempre, meu amor. Vou estar sempre aqui para ti. Quero estar sempre aqui para ti.
Sorris muito e cada vez mais. Aprendeste a dar uns gritinhos que são mais de alegria do que frustração. Aguentas-te mais tempo a fazer o que quer que seja mas quando te cansas não queres esperar. Esperneias e esperneias até pegarmos em ti ao colo. Continuas a resistir ao sono de tarde, muito mais do que à noite. Ficaste constipado pela primeira vez. Começaste a fazer fisioterapia por causa do pescoço: desde a barriga que preferes virar-te para o lado direito e temos que te contrariar. Nas primeiras sessões chorei quase tanto como tu. Conheceste a bisavó e experimentaste o ar puro dos pinheiros. Descobriste a magia do vento a fazer mexer as folhas das árvores e a roupa a secar nos estendais. Ensinas-nos também isso: ver as coisas mais simples como que pela primeira vez e deslumbrarmo-nos com aquilo a que para há tantos anos olhávamos sem ver.
Lembro-me do primeiro dia em que fiquei sozinha contigo quando o pai foi trabalhar. Quando a tia C., que nos veio visitar, se foi embora, e tu começaste a chorar como se te estivessem a arrancar a pele eu chorei também. Desde esse dia temos feito juntos um caminho de conhecimento um do outro e aprendizagem do meio. Sei quase sempre por que choras. Consigo acalmar-te, com mais ou menos facilidade, mas consigo. Faço-te rir e tantas e tantas vezes és tu que me pões à gargalhada com as tuas expressões e conquistas. Temos feito este caminho juntos e não há nada de que me orgulhe mais do que a convicção de que cada dia nos conhecemos um bocadinho melhor, caminho feito à custa da maior entrega de todas. Com todas as dificuldades inerentes mas com a certeza de que este amor nos fará sempre dar o melhor de nós.
Comecei a sonhar-te há muitos anos. Primeiro sem saber, diz quem sabe que o ser humano começa a preparar-se para ter filhos aos 18 meses, altura em surge a consciência do tempo. Por isso sonho-te desde a altura em que era ainda uma criança e brincava com o meu bebé, o boneco de pano que levava, e babava, para todo o lado. Depois com as bonecas Ana e Catarina, que vestia e despia, punha e tirava da escola, dava e corrigia trabalhos de casa. Já aí eu te sonhava, tantos anos antes de te trazer aqui dentro, como agora. A dias de te ver cá fora, e ansiosa de te ver (e ter) cá fora, revejo o caminho que fiz para chegar a ti. A infância (a escola, as amigas de sempre, os bonecos, a segurança da casa e dos pais, as brincadeiras com os primos, as folhas de cheiro, a carrinha do avô e os bolos da avó, o quintal de Proença e os dias e noites de verão, as histórias inventadas com a outra avó entre pedacinhos de queijo, o pão com manteiga e os livros, as cassetes de música e VHS que gravava em repeat), a aventura da adolescência com todos os seus quês e porquês (os amigos, o café, os limites, a pertença, as dúvidas, o encontro e o confronto entre o que somos e o que desejamos), o início da vida adulta (e mais quês e porquês apesar de algumas certezas no caminho, as casas por onde passei, a casa onde me encontrei, as pessoas que conheci, os medos e desilusões que fazem parte dos percursos, a alegria das conquistas, os passos felizes, as histórias que a profissão permite contar, o teu pai, eu e o teu pai, as viagens, os momentos ). Comecei a sonhar-te há muitos anos. E agora que estou a dias de te conhecer só peço Ser a melhor mãe do mundo para ti. Não a melhor mãe do mundo para o mundo, mas a melhor mãe do mundo para ti. Saber ler-te, primeiro: saber se é fome, se é frio ou são cólicas. Proteger-te sem te sufocar de proteção. Fazer com que saibas que estou do teu lado, sempre, mesmo que não esteja na mesma divisão. Educar-te para os afetos e para o otimismo, para a expressão do que sentimos, para os abraços, as palavras, as brincadeiras e os livros. Para a felicidade das coisas simples como a chuva da janela, um petisco improvisado à mesa e um passeio no parque, sem deixar de te ajudar a sonhar com as mais complexas. Deixar-te crescer com margem, mas nunca estando à margem dos teus sonhos. Vais ter muitos, meu amor, ao longo do caminho. Viver é avassalador. Acarreta surpresas e descobertas, nem sempre é fácil, é verdade, mas vale tanto a pena, confia em mim. Estou a dias de te conhecer e tenho muitas mais coisas para te contar. Mas temos tempo, filho. Por agora quero dizer-te que podes vir sem medos, que estamos todos prontos para te receber. De braços e coração. Sonho contigo há muitos anos. Mas nada me preparou para a felicidade de te saber quase aqui.
Quero que sejas livre, nas tuas opiniões, nas tuas convicções, na tua forma de olhar para o mundo. Quero que tenhas e sintas a liberdade de mudar de rota se a que inicialmente escolheste não te fizer feliz. Porque é disso que se trata. De ser feliz, escolhendo. De procurar a felicidade nos vários caminhos. De não ter medo de mudar. De acreditar que é possível, é sempre possível. Mudar, tentar, ser feliz. Só quero que sejas feliz, meu amor. (Vou fazer tudo o que puder para que assim seja)
Tens praticamente o peso que a tua mãe tinha quando nasceu (é certo que eu nasci umas semaninhas antes e era um bebé pequenino)... estás tão crescido :) Hoje quando te fomos ver estavas na tua posição balnear preferida (as duas mãos atrás da cabeça) e gosto de pensar que este é um indício de que vais gostar tanto de praia como eu.
Eu? Estou grande, pesada e arrasto-me para chegar a todo o lado. As pessoas sorriem-me na rua, há até quem deseje boa sorte (é tão bom), e lá vou eu no meu/nosso caminho contigo para todo o lado, devagar, devagarinho.
As minhas camisolas estão cheias de nódoas (diz que é comum às mães-casulo), a minha memória continua lenta e a esquecer-se até do nome do meio e a cara está inchada e cheia de manchas. Mas sabes que mais? São tudo sinais de que estás quase a chegar e são por isso razão de sobra para a minha felicidade.
Falta pouco para nos vermos, meu amor. Já te disse que estamos muito felizes com a tua chegada? :)