Mãe #1
De entre os mil tacos de madeira do chão de casa saber exatamente quais aqueles que rangem e que se devem evitar para não acordar a miniatura. Às vezes parece uma manobra de equilibrismo digna de um artista circense.
Cantar músicas infantis que nem sabíamos que sabíamos mas na hora do aperto nos saem da boca com esmero. E inventar outras. O segredo é rimar, rimar muito, mesmo que o texto pareça descabido. E quando já não sabemos o que cantar trautear lalala tratretri fafofefifu e perceber com espanto que resulta melhor do que as outras todas. Uma coisa é certa: Seja o que for que cantes canta com entusiasmo. Isso vai ajudar. O teu filho vai ser a única pessoa que não se queixa quando desafinas.
Deitarmo-nos a achar que aquele truque muita bom que resultou nesse dia - como fazer determinado barulho com a boca ou arrastar a espreguiçadeira como se tivesse rodas ou ainda uma maneira diferente de pegar - é a solução para todos os choros. E no dia seguinte perceber que não é e começar tudo outra vez à procura de novos truques e estratégias. E no final desse dia achar que se descobriu a fórmula mágica e no dia seguinte descobrir que não, afinal ainda não foi desta.
Ficar em êxtase quando, depois de mamar de madrugada, o pequenito arrota finalmente e podemos deitá-lo. E deitarmo-nos a nós, pois claro.
Cantar hinos aos arrotos com música de bandas que fizeram sucesso nos anos noventa. E adorar puns, porque o ar que sai é menos ar que fica na barriga a chatear o pequeno. E nós não queremos nada que chateie o nosso bebé.
Sempre que o carteiro toca à campainha prometer mentalmente que da próxima vai ter que nos ouvir. Porque normalmente é quando a miniatura adormeceu há cinco minutos depois de meia hora a chorar.
[em atualização permanente, 24 horas por dia]