Mãe #2
Fazer de tudo para que ele adormeça para tratar do que quer que seja que está por fazer mas mal isso acontece não tratar de nada e ficar só a vê-lo dormir. Não há nada tão sereno como um bebé a dormir.
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Fazer de tudo para que ele adormeça para tratar do que quer que seja que está por fazer mas mal isso acontece não tratar de nada e ficar só a vê-lo dormir. Não há nada tão sereno como um bebé a dormir.
De entre os mil tacos de madeira do chão de casa saber exatamente quais aqueles que rangem e que se devem evitar para não acordar a miniatura. Às vezes parece uma manobra de equilibrismo digna de um artista circense.
Cantar músicas infantis que nem sabíamos que sabíamos mas na hora do aperto nos saem da boca com esmero. E inventar outras. O segredo é rimar, rimar muito, mesmo que o texto pareça descabido. E quando já não sabemos o que cantar trautear lalala tratretri fafofefifu e perceber com espanto que resulta melhor do que as outras todas. Uma coisa é certa: Seja o que for que cantes canta com entusiasmo. Isso vai ajudar. O teu filho vai ser a única pessoa que não se queixa quando desafinas.
Deitarmo-nos a achar que aquele truque muita bom que resultou nesse dia - como fazer determinado barulho com a boca ou arrastar a espreguiçadeira como se tivesse rodas ou ainda uma maneira diferente de pegar - é a solução para todos os choros. E no dia seguinte perceber que não é e começar tudo outra vez à procura de novos truques e estratégias. E no final desse dia achar que se descobriu a fórmula mágica e no dia seguinte descobrir que não, afinal ainda não foi desta.
Ficar em êxtase quando, depois de mamar de madrugada, o pequenito arrota finalmente e podemos deitá-lo. E deitarmo-nos a nós, pois claro.
Cantar hinos aos arrotos com música de bandas que fizeram sucesso nos anos noventa. E adorar puns, porque o ar que sai é menos ar que fica na barriga a chatear o pequeno. E nós não queremos nada que chateie o nosso bebé.
Sempre que o carteiro toca à campainha prometer mentalmente que da próxima vai ter que nos ouvir. Porque normalmente é quando a miniatura adormeceu há cinco minutos depois de meia hora a chorar.
[em atualização permanente, 24 horas por dia]
Uma mãe não nasce de repente. Começa a nascer quando imagina que um dia vai ser mãe. Cresce quando a barriga vai crescendo e o bebé se vai tornando mais e mais real a cada ecografia e cada pontapé. Agiganta-se quando vê sair para o mundo aquele que tanto sonhou. Quando o põem em cima da barriga depois do parto. Quando ele mama pela primeira vez. Quando o vê dormir, sereno e lindo, tão seu que até dói no peito este amor tão físico que é todo ele paixão e medos e entranhas. Agiganta-se todos os dias. Nas conquistas e nas dificuldades, que são muitas, sempre. Uma mãe descobre-se todos os dias numa nuvem enebriante de mudança e de felicidade. Uma mãe ri, chora, volta a rir. E ama todos os dias mais, o coração de uma mãe nao estagna num tamanho, admira-se, estica-se, cresce como se fosse saltar do peito mas nunca salta. Está sempre no sítio certo, sempre onde o seu filho precisa de contar com ele.
*ou Uma Mãe em construção
Comecei a sonhar-te há muitos anos. Primeiro sem saber, diz quem sabe que o ser humano começa a preparar-se para ter filhos aos 18 meses, altura em surge a consciência do tempo. Por isso sonho-te desde a altura em que era ainda uma criança e brincava com o meu bebé, o boneco de pano que levava, e babava, para todo o lado. Depois com as bonecas Ana e Catarina, que vestia e despia, punha e tirava da escola, dava e corrigia trabalhos de casa. Já aí eu te sonhava, tantos anos antes de te trazer aqui dentro, como agora. A dias de te ver cá fora, e ansiosa de te ver (e ter) cá fora, revejo o caminho que fiz para chegar a ti. A infância (a escola, as amigas de sempre, os bonecos, a segurança da casa e dos pais, as brincadeiras com os primos, as folhas de cheiro, a carrinha do avô e os bolos da avó, o quintal de Proença e os dias e noites de verão, as histórias inventadas com a outra avó entre pedacinhos de queijo, o pão com manteiga e os livros, as cassetes de música e VHS que gravava em repeat), a aventura da adolescência com todos os seus quês e porquês (os amigos, o café, os limites, a pertença, as dúvidas, o encontro e o confronto entre o que somos e o que desejamos), o início da vida adulta (e mais quês e porquês apesar de algumas certezas no caminho, as casas por onde passei, a casa onde me encontrei, as pessoas que conheci, os medos e desilusões que fazem parte dos percursos, a alegria das conquistas, os passos felizes, as histórias que a profissão permite contar, o teu pai, eu e o teu pai, as viagens, os momentos ). Comecei a sonhar-te há muitos anos. E agora que estou a dias de te conhecer só peço Ser a melhor mãe do mundo para ti. Não a melhor mãe do mundo para o mundo, mas a melhor mãe do mundo para ti. Saber ler-te, primeiro: saber se é fome, se é frio ou são cólicas. Proteger-te sem te sufocar de proteção. Fazer com que saibas que estou do teu lado, sempre, mesmo que não esteja na mesma divisão. Educar-te para os afetos e para o otimismo, para a expressão do que sentimos, para os abraços, as palavras, as brincadeiras e os livros. Para a felicidade das coisas simples como a chuva da janela, um petisco improvisado à mesa e um passeio no parque, sem deixar de te ajudar a sonhar com as mais complexas. Deixar-te crescer com margem, mas nunca estando à margem dos teus sonhos. Vais ter muitos, meu amor, ao longo do caminho. Viver é avassalador. Acarreta surpresas e descobertas, nem sempre é fácil, é verdade, mas vale tanto a pena, confia em mim. Estou a dias de te conhecer e tenho muitas mais coisas para te contar. Mas temos tempo, filho. Por agora quero dizer-te que podes vir sem medos, que estamos todos prontos para te receber. De braços e coração. Sonho contigo há muitos anos. Mas nada me preparou para a felicidade de te saber quase aqui.
Nestes oito meses de aquário já percebi duas verdades que fazem com que a minha vida nunca mais seja a mesma (e ainda bem):
- Serei capaz de fazer tudo por ti, sempre.
- O amor por um filho é a força mais poderosa que existe.
Falar para a barriga em todo o lado. Em casa, na rua. Às vezes baixinho, em forma de sussurro. Outras perfeitamente audíveis para quem estiver ao lado. Falar para ti, pequenino. E saber que me ouves de dentro do casulo :)
Já foi há uns dias mas não posso deixar de registar. Urgência da Maternidade Alfredo da Costa numa sexta-feira à tarde. Diz o médico para a tua mãe, de olhos postos no monitor onde tu, como já nos habituaste, fazes a tua ginástica acrobática, bocejas, abres a boca, esfregas os olhos, pões os pés acima da cabeça, esticas-te todo, pões a mão debaixo da cabeça como se estivesses na praia a bronzear: "o seu filho é tão simpático. Não é nada tímido, vou aproveitar para me meter com ele mais um bocadinho". Já comecei a babar e ainda não nasceste, pequenino. Emprestas-me um dos teus babetes?
PS: É possível que o médico diga o mesmo a todas as mães que irrompem pelas urgências com o coração nas mãos e saem de lá com o coração no sítio certo, talvez um bocadinho maior de felicidade :) Mas o orgulho ninguém me tira, meu amor :)
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