Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Sou tão mais feliz desde que entraste na minha vida. 'Entraste' na minha barriga ao mesmo tempo que entraste no meu coração e cresces num e noutro lado ao mesmo ritmo. Não é só a barriga que tem elasticidade, o coração também tem e é vê-lo aumentar cada dia mais um bocadinho (um bocadinho? Quem é que eu quero enganar? Um bocadão impossível de contabilizar em qualquer calculadora!). Já percebi que a acompanhar o amor, este avassalador amor que ocupou todos os espaços, vem o medo, que um e outro andam de mãos dadas, nesta viagem-para-a-vida que é a maternidade. Já percebi que não há mães sem medo, que ser mãe é também ter medo, mas que o amor - este amor que faz crescer o coração - diz ao medo: 'não te preocupes, vai correr tudo bem'. E vai, meu amor.
Um dia vou ensinar-te que o medo existe, mas não quero que te impeça nunca de voar, se a viagem for destas, destas de aumentar o coração.
Comecei a sentir-te às dezasseis semanas. Eras como um peixe no meu imenso aquário, a nadar nas águas calmas. Agora, aos seis meses de amor, o meu aquário parece um recinto olímpico, onde as modalidades mais acrobáticas têm lugar depois do jantar e pela noite dentro. São tantas e tão intensas que o teu pai não perde uma atuação, quando de mão na barriga chama por ti, meu amor. Imagino-te ginasta, cansado mas feliz, depois de tantas cambalhotas e pontapés, quando nos deitamos para dormir. O meu aquário é o sítio mais feliz do mundo. O sítio onde nos conhecemos. O nosso princípio de tudo. As nossas primeiras palavras, aquelas que só nós ouvimos.
Estamos a algumas horas do novo Ano. O Ano em que nos vamos ver pela primeira vez, quando saires do teu-nosso casulo. Por isso esta entrada em 2015 é muito mais do que um pé direito a caminho de outro número no calendário. Mais do que as passas comidas uma-a-uma à meia noite. És tu, a promessa da tua chegada, o nosso amor celebrado. Já não me imagino a viver sem ti na minha vida, a nossa viagem tem sido plena de descoberta(s) e felicidade(s), uma viagem para a vida que o ano de 2014 começou e que não mais terminará. Continuará para sempre, mesmo depois de estares nos meus braços. Esta passagem para 2015 celebra por isso a nossa eternidade. Um elo feito de amor. Um amor que, prometo-te, será sempre uma certeza.
Desde que mudaste a minha vida que me irritam os carros que passam depressa demais junto aos passeios, que travam bruscamente nas passadeiras e as pessoas que, mesmo a pé, parecem querer levar os outros à frente. Até as cancelas para entrar nos supermercados me parecem subitamente inimigos do nosso bem estar, naquela sede desenfreada de abre/não abre/abre/não abre. Não quero que nada te assuste, que nada perturbe o teu casulo, o teu primeiro ninho na nossa história de amor para a vida.
Às vezes esqueço-me que estou grávida. (São sempre momentos curtos, garanto-te). Mas quando me volto a lembrar (logo, logo a seguir, garanto-te) sinto uma alegria/felicidade/contentamento tão grande que até vale a pena ter-me esquecido por minutos. E nem preciso de me beliscar para te saber real.
Estar grávida no Inverno é tremer de frio de cada vez que penso que tenho de pôr o creme-gordo-pegajoso-anti-estrias e tremer de frio de cada vez que o efetivamente ponho. Mas acho que ainda tremo mais ao pensar que o esforço pode não resultar.
PS: Mas Inverno, não desanimes, para os pés és do melhor que há: não me imagino a usar botas-pantufa-tão-confortáveis em pleno agosto sem ser olhado de lado :)
Sinto bolhas de água na minha barriga. Normalmente a meio da tarde e depois do jantar. Sorrio sempre, mesmo que esteja a meio caminho entre a impressora e a minha secretária no trabalho ou a atender um telefonema de uma qualquer marca a tentar vender alguma coisa que nunca irei comprar. Quando dou por mim já estou a sorrir, imagino-te dentro da minha barriga a tentar comunicar. Também tento sentir-te de cada vez que como alguma coisa calórica para tentar convencer-me que és tu que pedes. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão sobre os teus pedidos à la carte mas uma coisa é certa: não bebia leite há dez anos e agora passo o dia a atacar pacotes de leite com chocolate ou a sonhar que estou a atacar pacotes de leite com chocolate. Acho que se não experimentei as marcas todas do mercado estou lá bem perto. E já tenho a minha preferida: a que tem mais doce, claro.
No Pingo Doce, hora de almoço, às 14 ou 15 semanas:
"A menina está de bebé" - pergunta a senhora da caixa.
"Sim", respondo timidamente, entre o orgulho indisfarçável de ser já evidente a tua presença aos olhos alheios e uma certa vergonha de quem foge do centro das atenções.
"Então pode passar à frente".
Reparo que a única pessoa à frente de quem podia passar (ou seja, a única na fila além de mim) tem seguramente mais de noventa anos e uma bengala.
Todas as histórias têm um início e a nossa (sim, a nossa) começou num sábado pouco antes das oito da manhã antes de uma viagem de quatro horas em trabalho. Soube que existias porque uma segunda (ainda que ténue) linha apareceu num teste de gravidez mas se analisar os dias anteriores percebo que os sinais eram muitos de que já andarias por cá. Eras a coisa que eu mais queria que a vida me desse mas ainda assim tive que recuperar da avalanche de emoções antes de (no dia seguinte) pesquisar na internet coisas sobre ti. Quanto medias? Quanto pesavas? Que andavas já a fazer dentro de mim? Quem eras tu, afinal? Tantas perguntas. Uma resposta: 3 milímetros. Não me foquei no facto de seres tão nano-pequeno, antes no facto de existires: isso sim, para mim, era tudo. O início. O nosso início.
PS: Durante muito tempo, e antes de teres nome, eu e o teu pai chamavamos-te assim. 3 milímetros. Uma promessa boa, uma história a começar. Tão tua, tão nossa.