Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Quando te conheci tinhas apenas 4 semanas e 3 milímetros. Eu? 1,60 metros, nem penses que vou dizer o peso e 29 anos no cartão do cidadão. A aventura de uma mãe inexperiente a viver a mais avassaladora experiência de todas
Às vezes esqueço-me que estou grávida. (São sempre momentos curtos, garanto-te). Mas quando me volto a lembrar (logo, logo a seguir, garanto-te) sinto uma alegria/felicidade/contentamento tão grande que até vale a pena ter-me esquecido por minutos. E nem preciso de me beliscar para te saber real.
Estar grávida no Inverno é tremer de frio de cada vez que penso que tenho de pôr o creme-gordo-pegajoso-anti-estrias e tremer de frio de cada vez que o efetivamente ponho. Mas acho que ainda tremo mais ao pensar que o esforço pode não resultar.
PS: Mas Inverno, não desanimes, para os pés és do melhor que há: não me imagino a usar botas-pantufa-tão-confortáveis em pleno agosto sem ser olhado de lado :)
Sinto bolhas de água na minha barriga. Normalmente a meio da tarde e depois do jantar. Sorrio sempre, mesmo que esteja a meio caminho entre a impressora e a minha secretária no trabalho ou a atender um telefonema de uma qualquer marca a tentar vender alguma coisa que nunca irei comprar. Quando dou por mim já estou a sorrir, imagino-te dentro da minha barriga a tentar comunicar. Também tento sentir-te de cada vez que como alguma coisa calórica para tentar convencer-me que és tu que pedes. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão sobre os teus pedidos à la carte mas uma coisa é certa: não bebia leite há dez anos e agora passo o dia a atacar pacotes de leite com chocolate ou a sonhar que estou a atacar pacotes de leite com chocolate. Acho que se não experimentei as marcas todas do mercado estou lá bem perto. E já tenho a minha preferida: a que tem mais doce, claro.
No Pingo Doce, hora de almoço, às 14 ou 15 semanas:
"A menina está de bebé" - pergunta a senhora da caixa.
"Sim", respondo timidamente, entre o orgulho indisfarçável de ser já evidente a tua presença aos olhos alheios e uma certa vergonha de quem foge do centro das atenções.
"Então pode passar à frente".
Reparo que a única pessoa à frente de quem podia passar (ou seja, a única na fila além de mim) tem seguramente mais de noventa anos e uma bengala.
Todas as histórias têm um início e a nossa (sim, a nossa) começou num sábado pouco antes das oito da manhã antes de uma viagem de quatro horas em trabalho. Soube que existias porque uma segunda (ainda que ténue) linha apareceu num teste de gravidez mas se analisar os dias anteriores percebo que os sinais eram muitos de que já andarias por cá. Eras a coisa que eu mais queria que a vida me desse mas ainda assim tive que recuperar da avalanche de emoções antes de (no dia seguinte) pesquisar na internet coisas sobre ti. Quanto medias? Quanto pesavas? Que andavas já a fazer dentro de mim? Quem eras tu, afinal? Tantas perguntas. Uma resposta: 3 milímetros. Não me foquei no facto de seres tão nano-pequeno, antes no facto de existires: isso sim, para mim, era tudo. O início. O nosso início.
PS: Durante muito tempo, e antes de teres nome, eu e o teu pai chamavamos-te assim. 3 milímetros. Uma promessa boa, uma história a começar. Tão tua, tão nossa.